Plinio Corrêa de Oliveira

 

Entrevista filmada

 

A TFP brasileira, entidades co-irmãs e autônomas, metas e métodos de ação, breves traços biográficos do entrevistado

 

 

 

 

 

 

 

 

1° de junho de 1982, terça-feira, Êremo do Praesto Sum

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We have the pleasure of listening to Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, the founder and President of the Brazilian Society for the Defense of Tradition, Family and Property, TFP. Prof. de Oliveira is a know catholic thinker, and journalist, former congressman and author of the study that has had worldwide repercussions “What Does Self-Managing Socialism mean for Communism, a Barrier or a Bridgehead? Our first question for Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, is: Professor, how would you define the TFP and its objectives?

A TFP é fundamentalmente uma família de almas e é também uma família de associações autônomas e co-irmãs. Essas associações todas são associações cívicas que tem, portanto, como finalidade atuar no campo temporal. O objetivo especial é de combater a penetração do socialismo e do comunismo na sociedade contemporânea, o que elas fazem pelos processos que mais adiante serão indicados.

Este combate se faz inspirado pela doutrina tradicional da Igreja Católica, de maneira que embora sendo uma associação cívica ela tem uma inspiração doutrinária católica. 

 

Professor, can you explain to us why the name Tradition, Family and Propriety was selected as the name of your organization?

Por uma razão que decorre de muita reflexão e muita observação dos fatos. Houve tempo em que o perigo socialista, o perigo comunista – mais especialmente o perigo comunista – consistia na possibilidade da sublevação de grandes massas de trabalhadores famintos e revoltados contra a classe alta considerada como fruidora de bens que não tocavam a ela.

Nessas condições, o problema da repressão a uma agressão física era um problema fundamental do anticomunismo. Mas, passou a ser verdade que o comunismo foi perdendo, com o tempo – na sua propaganda internacional –  ele foi perdendo com o tempo esse caráter agressivo, que o espírito dos povos ocidentais foi rejeitando. E com isso ele se tornou cada vez mais ideológico. Ele passou do comunismo revolucionário, nós passamos para o comunismo polêmico. Isto ainda antes da II Guerra Mundial.

E então os doutrinadores comunistas apresentavam a doutrina comunista claramente, com seus argumentos, e definiam os campos. Alguém é comunista e alguém é anticomunista, mas já não recorriam tanto à violência.

Correspondeu a esse período a organização da reação anticomunista que era de tipo fascista e nazista. Então eram as grandes arregimentações de multidões anticomunistas que procuravam fazer face à dialética comunista por meio de uma dialética anticomunista, de uma oratória especial e de uma teatralogia especial anticomunista também. E quando os comunistas procuravam fazer desordens e fazer algum caos para reprimir a ação fascista ou nazista, eles empregavam a violência.

Mas a violência era um elemento também, nessa primeira fase do fascismo e do nazismo, um elemento ainda colateral diante já da parte mais importante que era a oratória, as grandes concentrações e a capacidade de entusiasmar as multidões dos oradores do tipo Hitler e Mussolini.

Pense-se o que se pensar a respeito deles – eu pessoalmente os combati e não me arrependo disso, acho que andei bem – pense-se o que pensar a respeito deles, continua evidente que o comunismo, nesse período, se apresentava já muito mais como dialético e polêmico e muito menos como violento.

Terminada a II Guerra Mundial, a tática do comunismo mudou porque as disposições da opinião pública mudaram também. Quer dizer, o comunismo passou a ser objeto de um horror internacional por causa da brutalidade e da dureza do regime. E  o comunismo sentiu a necessidade de dar uma dianteira na propaganda a todo um sistema novo que era da propaganda ideológica sim, mas uma propaganda velada e não declarada. Uma propaganda ideológica que não se fazia, fazia menos pelo maquinismo do Partido Comunista do que por partidos para-comunistas (o socialismo nos seus vários matizes, as redes dos inocentes-úteis, dos criptos-comunistas etc.), que sem tomar um ar diretamente comunista espalhavam idéias que preparavam para o comunismo.

E não era só o espalhar idéias. Era produzir a transformação da sociedade de maneira que cada vez mais a sociedade burguesa atual se parecesse com a sociedade comunista que elas querem implantar.

Então, declínio da violência – salvo em casos excepcionais aos quais eu me referirei daqui a pouco – declínio da violência, declínio do proselitismo declarado, proselitismo velado, utilização de uma mudança da morfologia, da forma social para se aproximar cada vez mais do comunismo: essas são as diferenças específicas do aspecto novo do comunismo.

O papel da violência aqui qual é? Não é diretamente a violência para impor o comunismo, mas é em certas populações muito sedentárias, muito tradicionais, a violência serve para sacudir a opinião pública e dar-lhe uma idéia de sua própria instabilidade. De maneira que as sociedades não comunistas percam a confiança em si mesmas.

As guerrilhas que durante algum tempo se espalharam pela América do Sul foram isso. A TFP uruguaia tem um livro muito interessante que mostra que os tupamaros – famosos tupamaros violentos – não foram senão um show para criar essa situação de instabilidade na sociedade burguesa.

Ora, nesta caminhada lenta, nesta transformação lenta da sociedade para o comunismo, dois meios foram empregados: atacar gradualmente a tradição, a família e a propriedade – de um lado. De outro lado, estabelecer, fazer do socialismo uma esperança de convergência entre os dois mundos de maneira a eliminar as devidas lutas e preparar uma grande paz internacional e social.

Então a TFP nasceu quando isto começava a ser assim, e julgou dever constituir-se desde logo como uma sociedade de defesa imediata da tradição, da família e da propriedade, porque aí se dá a luta contra o socialismo, é o socialismo que ataca essas instituições para que se chegue ao comunismo.

E então, a trincheira socialista e as artimanhas socialistas, são o alvo que a TFP tem em vista para combater o comunismo.

Esta é a razão pela qual a TFP foi constituída assim: entidades cívicas, de fundamento ideológico-religioso para combater o socialismo, mantendo a tradição, e a família e a propriedade e desta maneira deter o passo do comunismo. 

Professor, could you now explain to us the significant of your symbols, that is the standard, the rampant lion and the cape?

Com muito gosto.

O velho presidente Adenauer, da Alemanha, tinha um pensamento em matéria de propaganda que me causou uma profunda impressão. Ele dizia que a principal tarefa de uma corrente de opinião que quer generalizar-se é atrair antes de tudo aqueles que normalmente a ela pertencem, que para ela tem atração.

E por causa disso a TFP mais do que procurar atrair para si socialistas e comunistas, em conversões árduas, sempre excepcionais, um pouco rocambolescas – muito bonitas quando se dão mesmo, mas de rendimento pequeno debaixo do ponto de vista propagandístico – a TFP visa recrutar para a ação anticomunista aqueles que são naturalmente anticomunistas.

Ora, as camadas da sociedade que não se deixam levar para o comunismo são camadas que apresentam uns certos obstáculos de caráter psicológico muito mais do que lógico a uma ação anticomunista. Elas estão habituadas ao conforto, elas estão habituadas a uma vida de nível pequeno burguês ou de nível operário ou de nível grande burguês – pouco importa – elas estão habituadas a uma vida tranquila, encerrada dentro das próprias preocupações da família e sem se preocupar tanto com o bem comum, o bem geral.

Então, dois traços psicológicos devem ser acentuados para convencer este tipo de elementos de que eles devem engajar-se numa ação anticomunista, que eles devem pelo menos apoiar uma ação anti-comunista: 1) é despertar neles a apetência pelos grandes ideais e depois 2) admiração pela coragem. Esses dois aspectos de alma os nossos símbolos procuram despertar.

O nosso estandarte rubro, com a cor dourada do leão, apresenta algo que fala de grandes ideais, algo que produz um estado de espírito que não é bem exatamente aquele que o homem sente quando cogita apenas das vantagens – legítimas, respeitáveis – de sua família, e de sua pessoa e do seu ambiente de trabalho. [O estandarte] Eleva a alma para uma clave superior.

O leão fala da luta e faz sentir a nobreza e a beleza da luta. E comunica um pouco, ou pelo menos do senso de luta, a todos aqueles que o contemplam, numa época em que realmente todos estão atacados pelo perigo comunista e todos são chamados a lutar e a se defender.

Também o mesmo é a capa que usam os cooperadores da TFP. Essa capa visa – por assim dizer – isolar a figura deles da indumentária comum, transformá-los, por assim dizer, em bustos em que eles estão projetados numa linha ideal e uma linha histórica aos olhos do povo.

O cooperador, o sócio da TFP que se apresenta revestido da capa apresenta-se nimbado dos seus ideais, e muito facilmente atinge o objetivo da capa que é de chamar atenção para ele do público que passa. Para vender propaganda, para lançar slogans, para conduzir o estandarte que empolga as multidões, a capa é um complemento indispensável.

Esses são os nossos símbolos, essa é a explicação deles.

 

Campanha da TFP brasileira no Viaduto do Chá (São Paulo)

Professor,  I would like now to pass to the areas of action and ask you the TFP acts to influence public opinion, and how it works with youth?

A TFP parte da idéia de que todos os setores da opinião pública, ainda mesmo os setores que tem entre si desacordos ponderáveis, consideráveis, todos esses setores são vasos intercomunicantes e que de um setor para outro há osmoses. De maneira que se nós concentrarmos nossa ação sobre determinado setor, de fato não atingimos só esse setor, exercemos sobre esse setor uma ação concreta intensa e prática. E depois daí se resulta para os outros setores uma ação difusa, preciosa para o conjunto do andamento das coisas sociais.

Assim, nós escolhemos um determinado setor para agir. Esse setor é o setor católico. É o que corresponde às nossas almas: nós somos católicos, apostólicos, romanos, e a razão principal que nos move à luta, muito mais do que a defesa de direitos ou de vantagens individuais, é a manutenção da Civilização Cristã da qual o comunismo é a contestação mais brutal e mais completa.

Diz um velho provérbio latino “ex abundantia cordis os loquitur.” Eu forço um pouco a tradução do provérbio, e digo: “A boca só fala bem daquilo que está na abundância de coração.”

Na abundância de nosso coração está isso: a mensagem de católicos para católicos para – em nome da fé – arregimentá-los contra o inimigo da fé.

Escolhendo esse ambiente muito vasto – são 500 milhões de católicos na terra, já anda pelos 700 milhões – escolhendo esse ambiente muito vasto nós estamos certos de que a ação exercida aí, definidamente para eles, produz neles um efeito concentrado mais intenso. Tanto mais que nós falamos não alegando apenas o nosso pensamento individual mas alegando os documentos tradicionais dos Papas, ou seja, o magistério da Igreja que eles admitem como infalível, que nós admitimos como infalível, professamos como infalível.

Apresentado isto assim a eles, temos os melhores meios para convencê-los de lutar a favor da Igreja e da Civilização Cristã.

Este objetivo se completa, ou se explica ainda mais inteiramente pela necessidade de combater dentro do meio católico a penetração progressista, socialista e até comunista que é um dos escândalos do século XX. Como católico, com dor, eu o digo, mas a realidade é essa.

E se não houver um remédio especificamente católico para combater esse mal que grassa nas fileiras católicas, esse mal não encontrará o combate necessário.

Mas, nós estamos longe de ser insensíveis à seguinte constatação: é que este combate pode servir de estímulo, pode servir de exemplo, pode encontrar pontos de apoio e cooperação com pessoas que não tenham a mesma posição religiosa que a nossa.

Com efeito, nós sabemos bem que desalenta os não católicos ver como a propaganda comunista grassa nos meios católicos; alentá-los a ver que há repulsa do próprio meio católico.

Ficaremos muito satisfeitos se isto sugerir a pessoas que professam outras religiões, e em cujos ambientes também grassa a propaganda socialista e comunista – porque não há um ambiente religioso, e a fortiori um ambiente não religioso, que não esteja penetrado por essa propaganda hoje – pode sugerir a eles a idéia de fazer o mesmo. Pode também dar a idéia de que, para além das fronteiras que nos separam, existe uma possibilidade de colaboração.

Para essa colaboração nós somos abertos. Nós não somos abertos para o ecumenismo considerado uma mistura das religiões nas quais todas se degradam e perdem a sua identidade; mas conservada cada religião com sua característica própria, sem relativismos dessorantes, é bem certo que nós só podemos conceber vantagens numa colaboração com anticomunistas de outras posições religiosas ou sem posição religiosa definida.

Esta é a resposta que eu deveria dar à sua pergunta. 

Very interesting, Prof. Plinio. Could you now tell why you wrote and published the Message on French self-Managing Socialism?

O socialismo autogestionário foi combatido especialmente pela TFP por causa das circunstâncias das quais ele venceu.

Ele se afirmou na França pelas vitórias eleitorais socialistas, algum tanto inesperadas, de 1981. E ele se apresentava para o público que o ignorava, que não conhecia esse socialismo, ele se apresentava como a expressão mais moderna, mais arejada, mais benigna, mais acessível, mais conciliadora do famoso socialismo de face humana, do socialismo bonacheirão que o comunismo procura tomar como máscara em nossos dias.

E no mundo inteiro os meios de comunicação social – imprensa, rádio e televisão – apresentavam a vitória de Mitterrand como um passo enorme do mundo socialista para a colaboração amena com o mundo não socialista.

Há um fato que independe de se querer que ele seja ou que ele não seja. A história prova que o que se passa na França tem uma peculiar repercussão no mundo. Por exemplo, o sr. é norte-americano. Nós sabemos que papel tiveram as idéias da Revolução Francesa e os políticos e os militares franceses penetrados pelas idéias que mais tarde dariam na Revolução Francesa, que papel elas tiveram na história norte-americana.

Mas nós sabemos bem que foi a partir das idéias da Revolução Francesa, levadas por Napoleão, pelas tropas da Revolução e depois por Napoleão por toda a Europa, que se deu a grande transformação política da Europa no século XIX. Não foi só por isto mas foi muito acentuadamente por isto.

Há qualquer coisa de comunicativo no que é francês, que desta vez se fez exercer de um modo inesperado. Por que inesperado? Porque a comunicatividade francesa parecia um pouco cansada depois das provações das várias guerras. Mas, com o apoio do rádio, da televisão e da imprensa essa comunicatividade se afirmou de novo enormemente. E a ultima moda francesa das idéias...

 

(Interrupção na gravação)

 

Então, essas razões como eu dizia ao senhor tornam muito oportuno, tornavam muito oportuno, necessário até esclarecer a opinião pública a respeito disso que era a grande ofensiva socialista.

Mais ou menos pelo mundo inteiro, por exemplo, os partidos socialistas começaram a se dizer autogestionários. O que é autogestão? Mais ou menos ninguém sabe; todo o mundo sabe, ninguém sabe.

Autogestionário era tido como uma espécie de especial forma de sorriso, e mais nada. Ora, a estas razões que tornaram urgente uma réplica ao socialismo autogestionário se somava uma outra razão de ordem prática e de uma importância muito grande. E a razão é a seguinte.

Eu nunca vi em minha vida o socialismo se apresentar a si próprio com tanta clareza e tanta precisão como nos documentos do Partido Socialista Francês (PSF). Tudo aquilo que o socialismo viveu de não dizer com clareza, viveu de manter na ambiguidade,  por razões que eu ignoro e que não tenho [obrigação de saber, o socialismo autogestionário francês declarou com uma precisão, com uma força de coerência extraordinária em vários congressos sucessivos, em vários manifestos, em vários documentos de maneira que o fundo mesmo radical – e não só comunista mas transcomunista da meta autogestionária – este fundo foi confessado e proclamado como próprio pelo socialismo francês.

Eu tinha, portanto, pela primeira vez na vida, o socialismo inteiramente desmascarado.  Depois, com a vantagem de não ser apenas desmascarado pelo livro de um intelectual do qual o Partido podia dizer que não representava o pensamento dele, era o pensamento avulso de um intelectual. [Mas] Eram resoluções públicas e oficiais do Partido, do próprio Partido Socialista autogestionário vencedor. Era uma oportunidade única de arrancar a máscara ao socialismo internacional.

Então, eu me atirei à denúncia deste socialismo bem certo de que os meus leitores saberiam ver que entre socialismo e socialismo pode haver diferença de matizes mas há sobretudo identidade de corpo, e que portanto o que de um deles se diz, do outro há razões para pensar também. 

Nessas condições, pareceu-nos que tudo convidava a um grande lance. Esse grande lance foi dado pelas treze TFPs dirigindo-se solidariamente à opinião universal e utilizando para isto um meio de propaganda especial: publicando num jornal a matéria de um pequeno livro de condensação.

Eu não conheço uma vez em que se tenha feito uma coisa com esta audácia de publicidade. E de uma vez, nos principais jornais dos principais países do mundo!

Eis o que foi feito. 

Could you now perhaps tell because at the men who are attracted to the TFP, how the TFP works with youth?

A juventude é, sem dúvida, o setor preferido que a TFP tem atraído. É preciso dizer que isto um pouco porque é o setor que tem preferido a TFP.    

Quer dizer, a TFP tem procurado atrair todos os setores da população e em nenhum ela encontrou mais acolhida do que entre os jovens. É claro que ela se estendeu mais entre eles.

É como um rio que tem de um lado montanhas, de outro lado planície: as suas águas tendem a cobrir a planície e a contornar a montanha. Assim também a faixa de idade que mais tem sido aberta para a TFP é a faixa dos jovens. E, interessante, quanto mais jovens, muito mais abertos.

Vamos dizer, é muito convencional o limite (da juventude). E nenhum ouvinte, sobretudo nenhuma ouvinte, queira se sentir desclassificado da condição de jovem pelo limite que eu vou por. A juventude é uma condição interna que vai muito além de certa idade, mas digamos que nós ponhamos 30 anos como limite da juventude. É um limite todo convencional, eu reconheço.

Então, se nós pusermos esse limite, nós podemos dizer que a atração é boa entre os que tem de 25 a 30 anos, ela é melhor entre 20 e 25 anos, ela é melhor ainda entre 15 e 20. O que eu posso fazer? Nós nos encontrarmos diante desse paradoxo cheio de sabor: os defensores da tradição encontram os seus maiores entusiastas entre aqueles que são os portadores do futuro mais extremo, do futuro mais longínquo.

Nós não seríamos dignos da tradição que defendêssemos se não fossemos capaz de abrir os braços para o futuro. Nós os abrimos grandes até, e nos voltamos para esse futuro com um sorriso aberto e com coração aberto.

De que maneira? Não procurando meios termos. Os jovens de hoje tem uma mentalidade diferente dos que nos antecederam. Assim são os jovens de todos os tempos, assim são também os de hoje.

Os que nos antecederam pensam sempre que os jovens são um prolongamento deles, assim são os que antecederam em todos os tempos. Nisso tudo há equívocos. O jovem de hoje é até por certo ponto um prolongamento dos que o antecederam, até certo ponto ele é uma inovação.

E ele se sente mais marcado pela inovação do que pelo prolongamento. Prolongamento ele vai perceber mais tarde que ele o é, no momento o que ele sente é a inovação.

Os jovens de hoje o que sentem? Eles sentem diante de um mundo, na aparência organizado magnificamente – grandes prédios, grande urbanismo, máquinas enormes de produção, de destruição, de consumo, sistema financeiro complicado, progressos científicos extraordinários – ele se sente isolado, ele se sente anônimo e ele se sente incompreendido.

Incompreendido pelos mais velhos? É, mas não é só isso. Também pelos da mesma idade. Cada um se sente incompreendido pelos da mesma idade também, um pouco mais incompreendido por si mesmo. Eles não se entendem a si próprios, cada um deles é para si e aos olhos de si mesmo o portador de uma certa zona de alma que é ao mesmo tempo enigma e charada.

E eles sentem que algo de muito profundo tem lhes falado na alma para atingir aquela zona de alma em que os seus problemas se põem.

Passa diante dele uma TFP e eles sentem na proclamação da tradição, eles sentem o perfume augusto de uma ordem que eles já não conheceram, mas de uma ordem que respondia ao vazio que está na alma deles, e que resolve os problemas que eles tem. Eles se levantam e eles abrem os braços para isso.

É claro! Todo aquele que tem um enigma abre o braço para a solução. Aí nós vemos o traço perene, nobre, divino de tudo quanto Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou.

São Paulo diz: Jesus Cristo ontem, hoje e nos séculos que vem. Nós podemos dizer a mesma coisa, a nossa tradição é cristã: é para ontem, para hoje e para os séculos vindouros. Mantê-la tal e qual, proclamá-la tal e qual é fazer com que a parte sã da juventude seja levada a abrir os braços para ela.

Então diante dessa integridade de doutrina, dessa integridade de ideal, diante do tom categórico com que nós denunciamos os problemas e os perigos da época contemporânea, a esses jovens muitas vezes nauseados do excesso de conforto e do excesso de segurança com que o cerca a civilização atual, a eles nós falamos de heroísmo, nós falamos de grandeza de alma, de abnegação. Eles sentem como se lhes abrisse uma janela e a TFP por toda a parte se enche de jovens.

Esta é a explicação psicológica do desenvolvimento da TFP entre os jovens.

Cursos, círculos de estudos, reuniões, bibliotecas – bibliotecas para aquilo que Paulo VI chamou acertadamente uma vez e a meu ver ameaçadoramente, “a civilização da imagem” que vem –, bibliotecas com abundantes álbuns, com abundantes fotografias, slides, audiovisuais em que eles possam ver antes de querer estudar, mas depois são levados pelo desejo de estudar até a profundidade da reflexão. Aí está a TFP. 

Professor, that’s a very beautiful and exciting panorama that you opened for young men. I’d like to pass to another practical question and that is how are the TFPs financed

A TFP começou... eu dou o histórico da TFP brasileira. Ela é a mais antiga das TFPs, e também a mais numerosa, e o que se passa com ela é um pouco o padrão do que se passa com todas as outras.

A TFP brasileira começou financiada fundamentalmente por dois de seus diretores. Homens pertencentes a uma grande empresa e que generosamente destinavam uma parte importante de seus lucros para manter a TFP, então bem pequena.

Mas à medida que a TFP foi crescendo, os seus gastos já não cabiam nas possibilidades orçamentárias desses dois diretores generosos. Mas ela foi ao mesmo tempo fazendo simpatizantes, e então a TFP começou a pedir recursos aos simpatizantes.

E estabeleceu todo um sistema de coleta de donativos – ou de grandes donativos, ou de donativos mensais – que levou à seguinte conclusão: nós continuamos a ter alguns grandes doadores esporádicos, mas habitualmente o grosso de nossas despesas é coberto pelos que dão, pelo grande número dos que dão pequenos donativos mensais ou médios donativos mensais.

Eles são cuidadosamente detectados entre todos que manifestam alguma simpatia para com a TFP. E eles desta forma são objetos de uma coleta metódica que dá o suficiente para manter os gastos da TFP.

Eu sou grato aos nossos doadores iniciais, aos nossos grandes doadores iniciais, e muito grato para alguns outros grandes doadores que de vez em quando, para alguma campanha especial, nos ajudam generosamente.

Mas eu tenho alegria em que a nossa base orçamentária seja de pequenos doadores, porque isso assegura à entidade muita independência, ela não fica dependendo da boa vontade ou do capricho de um só, mas ela conta com os simpatizantes que tem.

E esses simpatizantes – é curioso – são em geral da burguesia pequena e média, não são muitas vezes da grande burguesia, não são também muitas vezes do operariado. O operariado estamos começando a nos difundir nele com algum êxito agora, com os setores operários bem bons funcionando em algumas cidades do Brasil. Contamos ter um grande setor operário. Mas a capacidade de contribuição deles não é grande, é muito bonita; é a generosidade na pequena e média burguesia. É com esta generosidade sobretudo que a TFP brasileira se mantém.

Coisa análoga se poderia dizer das várias outras TFPs. O mundo de hoje é muito semelhante em todas as suas partes, e é este o grande embasamento financeiro das TFPs. 

Professor, about yourself, could we ask you to tell us something about your personnel background?

É a parte em que eu serei menos loquaz...

Como é que eu me defino? Primeiro dizendo o que eu sou. Eu sou um brasileiro nascido no Estado de São Paulo, na cidade de São Paulo, que é comparada ao que seria uma Nova York brasileira. Meus pais são de famílias tradicionais da antiga aristocracia rural brasileira do tempo do Império; meu pai é do estado de Pernambuco, minha mãe do Estado de São Paulo. Nível econômico médio, eu estudei meu curso secundário, tive antes de tudo uma preceptora alemã, cujo nome – eu sei que eu falo a ouvintes em parte alemães – eu tenho alegria em mencionar com saudades, com respeito e com afeto o nome dessa grande educadora: era uma bávara de Regensburg, fraulein Matilde Heldman, que me ensinou alemão, o francês e o inglês, porque ela era uma verdadeira poliglota. E me deu certo gosto de estudos; ela só fracassou no intuito de me ensinar as matemáticas, me dar o gosto das matemáticas. Às matemáticas e às ciências naturais, meu espírito nunca se voltou para esse domínio ao longo de minha vida.

Bem, eu depois entrei para o colégio São Luís, dos padres jesuítas, em São Paulo, onde fiz grande parte do meu curso secundário, depois matriculei-me na faculdade de Direito de São Paulo que é a mais célebre das faculdades de Direito do Brasil.

Quando eu tinha 20 anos, eu entrei para o Movimento Católico e comecei então uma ação que no meu espírito já era destinada a combater o perigo comunista que começava a se formar no Brasil.

De lá para cá até minha idade de hoje – eu nasci em 1908, estou com 73 anos – até a idade de hoje, eu tenho trabalhado continuamente nos meios católicos, mas em condições diversas.

Eu primeiro fui advogado, advoguei durante uns 20 anos, mas em 1934 eu fui eleito pela Liga Eleitoral Católica; deputado à Assembléia Federal Constituinte do Brasil. Fui o deputado mais votado do Brasil, eu tinha 24 anos nessa ocasião.

Depois eu fui, sempre advogando, eu fui também professor universitário na Universidade de São Paulo que é do Estado, universidade oficial, e na Universidade Católica de São Paulo. Professor de História Moderna e Contemporânea, catedrático.

Com o curso do tempo eu arranjei a minha vida de maneira a não precisar ganhar para viver, e com isso eu comecei a me dedicar exclusivamente em favor da causa católica vista como eu acabo de expor, nos interesses ideológicos que acabo de expor.

Eu aí fundei a TFP, no ano de 1960, e a TFP generosamente me vem reelegendo como Presidente dela de lá para cá.

Tenho colaborado em vários jornais, entre eles o jornal de cultura "Catolicismo" que é o principal jornal de cultura católica do Brasil e que é orientado, supervisionado por nós, e também na “Folha de S. Paulo” que é hoje o cotidiano de maior tiragem no Brasil. Esses meus artigos na “Folha de S. Paulo” são transcritos mais ou menos por uns dez grandes diários brasileiros também.

Tenho feito muitas conferências, muitos discursos em várias circunstâncias e tenho tomado, com alegria, contato frequente, cada vez mais assíduo, com irmãos de ideal de fora do Brasil.

Isto é muito resumidamente a minha vida.

Eu ia me esquecendo dos livros. Tenho também escrito vários livros, mas não vou lhes infligir a relação completa deles, edição etc., etc. Isso fica para depois. 

A final question, Prof. Plinio. What do you consider today to be the most serious threat to the west?

Está implícito no que acabo de dizer. O maior perigo para o Ocidente é o comunismo. Mas, veja bem: não é o ataque russo. O ataque russo pode constituir um perigo na medida em que degenere na guerra atômica. Mas o grande perigo está na moleza, na negligência, na falta de idealismo das classes sociais e das correntes ideológicas que se opõem ao comunismo.

Se elas lutassem tanto quanto os comunistas lutam pelo comunismo, elas teriam todas as condições de vitória.

O comunismo tem uma certa força no mundo de hoje, mas ele é muito mais um fantasma nascido de nossa fraqueza do que ele é um perigo verdadeiro. A Rússia vive dos recursos que lhe manda o Ocidente. Os países da Cortina de Ferro são mantidos pelo sistema bancário do Ocidente. Os partidos comunistas progridem porque no Ocidente não há uma ação anticomunista proporcionada. A nossa moleza é a força deles, nossa moleza é nosso perigo. 

Professor, thank you very much for your comments and for making available the facilities of the TFP here in São Paulo for this interview.

Eu tive muito prazer de falar nesta rápida entrevista e saúdo os meus ouvintes, que eu sei, na quase totalidade ou na totalidade, anglo-saxões ou de língua alemã. Latino eu mesmo – eu não tenho uma gota de sangue que não seja brasileiro – eu vos saúdo entretanto com muita simpatia. Tendo procurado ao longo dessa exposição entrar quanto possível nas perspectivas deles para aumentar a união entre todos nós.

Esta união ao serviço de uma tão nobre causa é o que eu desejo e são esses os votos com que eu encerro esta projeção. 

Thank you, sir.


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