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CASTELO DE SÃO JORGE, EM LISBOA, PORTUGAL. Lisboa é uma das cidades mais peculiares do mundo. Cidade do fado, das cores explodidas em seus velhos prédios, da suBtil e doce melancolia do país que …Mais
CASTELO DE SÃO JORGE, EM LISBOA, PORTUGAL.

Lisboa é uma das cidades mais peculiares do mundo. Cidade do fado, das cores explodidas em seus velhos prédios, da suBtil e doce melancolia do país que inventou a saudade. Lisboa bairrista, tradicionalista, europeia, futurista, portuguesa. Lisboa milenar!
Erigida às margens do Tejo, é a capital europeia mais ao ocidente do continente. Clima agradável, população recetiva, a cidade é uma das mais visitadas da União Europeia, apresentando diversos lugares de beleza única. Entre os maiores atrativos ergue-se majestoso, no topo da mais alto das suas sete colinas, o milenar Castelo de São Jorge.
A imponente fortaleza pode ser vista de todos os pontos do centro histórico, formando uma vincada paisagem urbana presa através dos séculos. Mais antigas do que a própria cidade, as muralhas do popular Castelo dos Mouros, confundem-se com a história de Lisboa e de Portugal. Não se sabe ao certo quando foi edificado, tendo-se registros da sua existência já na época da presença romana em terras lusitanas. A beleza sóbria e majestosa do Castelo de São Jorge revela a sua perenidade silenciosa. De dentro das suas muralhas diversas gerações assistiram às evoluções de um povo, à seqüência de culturas que dominaram umas as outras, passando pelos primitivos povos pagãos, pelos muçulmanos e, finalmente, pelos cristãos, dando origem ao Estado português, um dos mais antigos em fronteiras consolidadas do continente.
Aberto ao público, proporciona um dos mais belos passeios na capital portuguesa. Das suas muralhas avista-se Lisboa em um ângulo de 360 graus. Seus jardins singelos abrem-se a paisagens que nos transportam através da história. O velho canhão apontado para a cidade, a Porta da Traição, a estátua de Dom Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal e conquistador de Lisboa aos mouros, e ao longe o Tejo, ponto de partida das caravelas que desbravaram novos continentes. O Castelo de São Jorge não é só a beleza de um cartão turístico imponente, mas a própria essência da cidade de Lisboa, a sua história viva.

Dos Romanos aos Mouros

O Castelo de São Jorge, ou o que restou da fortaleza assim denominada, é tão antigo quanto a cidade de Lisboa. Não se pode situar com precisão quando foi erguido. Escavações arqueológicas registram a presença dos Fenícios, Gregos e Cartaginenses no local, gerando a lenda de que Lisboa teria sido fundada pelo herói grego Odisseu (Ulisses). Mas os primeiros registros históricos conhecidos datam da época da conquista dos romanos à Hispânia, nome que davam à península Ibérica. Os romanos dividiram a península em duas províncias: Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior. Mais tarde, a Hispânia Ulterior seria dividida em duas províncias, Bética e Lusitânia.
Registros apontam que em 139 a.C., o cônsul romano Décimo Júnio Bruto usou o local como base militar de operações contra os núcleos lusitanos que se dispersaram após o assassínio de seu líder histórico Viriato. O fato leva a crer que a fortaleza no cume da mais alta colina de Olisipo, atual Lisboa, já existia como estrutura defensiva, suspeitando-se que a sua construção seja do século II a.C. Após a conquista definitiva da Lusitânia, a povoação recebeu o título de Felicitas Julia, em 60 a.C., dando aos habitantes nativos o direito à cidadania romana.
No século V terminava o domínio romano, e a cidade foi conquistada por diversas tribos bárbaras, primeiro pelos Suevos, sob o comando de Maldras; depois pelos Visigodos, tribos de origem germânica, sob o comando de Eurico. A atual Lisboa tornar-se-ia definitivamente visigoda sob o reinado de Leovigildo. A antiga fortificação romana seria adaptada aos seus novos povos dominantes.
No século VII os muçulmanos chegavam à península Ibérica, iniciando o seu domínio. Sob o domínio mouro, a antiga Olisipo passou a ser chamada de Al-Ushbuna ou Lissabona. É neste período que aproveitam o forte existente, ampliando-o, construindo no seu interior a quasabah (alcáçova), centro do poder político e militar mouro, defendida por suas muralhas de duzentos metros de largura.
A Alcáçova, coração da fortificação, tinha uma planta quadrangular de sessenta metros. Situando-se no cume da colina, tinha uma vista estratégica sobre o Tejo e os arredores da cidade.
O domínio mouro estender-se-ia por um logo período, deixando marcas indeléveis na cultura local que atravessaria os séculos. A grande fortaleza, que ainda é chamada pelos mais antigos de Castelo dos Mouros, ou o que é hoje o Castelo de São Jorge, teria tomado as suas formas entre os séculos X e XI. Durante o domínio mouro, as muralhas teriam sido reconstruídas e ampliadas, constituindo a famosa Cerca Moura.

A Conquista dos Cristãos

O período do domínio islâmico apesar de longo, não foi tranqüilo. A Lisboa moura sofreu várias invasões cristãs, empenhadas em conquistar toda a península Ibérica. Por algumas vezes a cidade foi tomada pelos cristãos oriundos dos reinos de Leão e Castela, sendo sempre reconquistada pelos mouros. Naqueles períodos de guerras, tanto a Alcáçova quanto a cidade, sofreram vários danos.
A conquista cristã definitiva, dar-se-ia no século XII, em 1147, feita pelas forças de Dom Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, auxiliado por um exército de cruzados ingleses, normandos e flamengos a caminho da Terra Santa. Após três meses de cerco, deu-se a capitulação moura.
O momento da conquista do castelo gerou a lenda do cavaleiro Martim Moniz. Durante o cerco, o valente cavaleiro, destacando-se dos outros, ao perceber que uma das portas do castelo estava entreaberta, pôs o corpo no vão da entrada, sendo esmagado e morto, mas impedindo que ela fosse fechada, possibilitando o acesso e a vitória dos companheiros. Em sua homenagem, esse acesso ficou conhecido como a Porta de Martim Moniz.
Após a conquista cristã, o castelo foi posto sob a invocação de São Jorge, santo de devoção de muitos dos cruzados. Com o tempo, passou a ser chamado de Castelo de São Jorge. Mesmo depois da conquista cristã, os mouros tentaram sem sucesso, por duas vezes, em 1179 e em 1183, a retomada da cidade.

O Paço Real da Alcáçova

Após a tomada cristã, mesmo antes de Lisboa tornar-se a capital do reino, o castelo foi usado como residência real. Em 1255 Lisboa tornou-se a capital de Portugal, e o Paço Real da Alcáçova, localizado no Castelo de São Jorge, além de abrigar os reis, passou a abrigar os bispos e albergar os nobres.
No período medieval o Paço da Alcáçova foi habitado por todos os monarcas portugueses, sendo o centro político e administrativo do reino. Por toda a Idade Média foi reconstruído, modificado e aumentado várias vezes, não adquirindo uma identidade arquitetônica, que flutuou conforme o capricho de diferentes monarcas, adequando-se sempre às necessidades de cada um deles.
Mesmo sendo o centro da própria cultura portuguesa por todo período medieval, o Paço da Alcáçova não trazia beleza em seu exterior, tornando-se uma massa de edifícios de dimensões diferentes, construídos ao longo do tempo, confortável por dentro, mas sem nenhuma harmonia arquitetônica. Assim como a cidade, passou por sucessivos terremotos em 1290, 1344 e 1356, sofrendo grandes danos. Com o tempo passou a ficar obsoleto. Em 1429, reza as crônicas, não havia nele uma sala de dimensões que comportasse o banquete de Estado oferecido aos embaixadores que vieram buscar a infanta Dona Isabel, duquesa de Borgonha.
Os últimos dias de glória do Paço da Alcáçova deram-se no reinado de Dom Manuel. Ali foi recebido Vasco da Gama quando retornou da viagem na qual alcançara à Índia, em 1498. Com a expansão marítima, Dom Manuel decidiu construir um novo paço real na vizinhança da Ribeira das Naus, junto à Casa da Índia. Em 1505, transferiu-se para o Paço da Ribeira, local que passou a ser chamado pelo povo de Terreiro do Paço.
Um terremoto, em 1531, destruiria grande parte do antigo Paço da Alcáçova. O local passou a ser utilizado como aquartelamento. Na época da União Ibérica (1580-1640), foi utilizado como prisão. Outros terremotos, de 1551, 1597 e 1699, abalariam ainda mais as suas estruturas. O terrível terremoto de 1755, que destruiu grande parte de Lisboa, fez com que o antigo Paço da Alcáçova entrasse definitivamente em declínio. Chegou a abrigar a sede da Casa Pia de 1780 a 1807. Durante a Guerra Peninsular, foi utilizado como Quartel General por Jean-Andoche Junot, quando este chegou a Portugal nos fins de 1807.

O Castelo no Século XXI

O Castelo de São Jorge chegou historicamente ofuscado ao século XX , passando um longo período interditado à população lisboeta. Em 16 de junho de 1910, um decreto classificou-o com Monumento Histórico Nacional. Mas só em 1938 começaria a sofrer obras de restauração, concluídas em 1940, sendo reconstituída grande parte da sua estrutura original.
Na década de 1990, sofreria outras importantes obras de restauração. Neste período esteve algum tempo fechado, sendo reaberto na noite de 31 de dezembro de 1999, para que os lisboetas pudessem ver a chegada do ano 2000 do topo da colina mais alta da cidade. Dali, pôde-se vislumbrar os fogos queimados no meio do Tejo, saudando o fim do segundo milênio.
Atualmente, o castelo dispõe de seis mil metros quadrados de área, distribuídos em forma de quadrilátero. Dezoito torres intercalam a longa muralha, dando-lhe sustentação, podendo ser visto de todas as partes do centro histórico. A visão de Lisboa oferecida pelo castelo é de trezentos e sessenta graus, sendo a mais completa e esplendorosa da cidade.
No seu interior encontramos singelos jardins, lagos e miradouros. Uma estátua de Dom Afonso Henriques aparece em destaque na Praça das Armas, tendo-se acesso ao local pelo Portão Sul. Oferece ainda o castelejo; o Alcazar, antiga cidadela moura. Doze portões abrem-se nos muros de ameias, sendo sete deles para o lado da freguesia de Santa Cruz do Castelo. Na Praça do Poente, estava situada, junto à muralha norte, a Porta da Traição. Para o exterior, parte da muralha dá acesso a uma torre barbacã. Uma explanada recebe os visitantes, destacando-…