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HISTÓRIA DAS INVASÕES FRANCESAS EM PORTUGAL. A política externa portuguesa de 1801 a 1807, como em períodos anteriores, dividiu-se entre a aproximação ora à Inglaterra ora à França. A Inglaterra …Mais
HISTÓRIA DAS INVASÕES FRANCESAS EM PORTUGAL.

A política externa portuguesa de 1801 a 1807, como em períodos anteriores, dividiu-se entre a aproximação ora à Inglaterra ora à França. A Inglaterra tornara-se absolutamente indispensável para o desenvolvimento económico do país, que militarmente estava também dependente do apoio e da direção britânicas.

A aliança com a França parecia mais desvantajosa para Portugal, porque este país mantinha relações privilegiadas com a Espanha. O bom relacionamento entre estas duas nações perspetivava para o nosso vizinho ibérico uma excelente oportunidade de invadir Portugal e retomar a União Dinástica quebrada em 1640, com a restauração da independência do país, após sessenta anos de domínio espanhol.

Napoleão decretou em 1806 o bloqueio continental, isto é, decretou a proibição de qualquer país europeu manter algum tipo de relacionamento com a Inglaterra. Portugal, que não estava muito empenhado em obedecer à imposição francesa e trair o seu valioso e perigoso aliado, apesar da relutância em obedecer a Napoleão, foi coagido a fazê-lo.

Em julho de 1807 a regência portuguesa recebeu um documento diplomático em que era obrigada a fechar os portos aos ingleses, cortar relações diplomáticas com a Grã-Bretanha, prender todos os cidadãos britânicos em território português e confiscar os seus bens, sob pena de sofrer as mais pesadas retaliações.

Portugal estava confrontado com dois cenários pouco agradáveis: por um lado se decidisse aderir ao bloqueio continental estava sujeito a perder o seu império para os ingleses, ou seja perder o Brasil, a parte mais apetecida do seu espaço colonial; por outro lado, se apoiasse a Inglaterra o país seria imediatamente tomado pelos franceses e a corte seria compelida a abandonar a metrópole e instalar-se na colónia brasileira.

Apesar da regência tentar, pela via diplomática, chegar a um compromisso de paz, em agosto de 1807 o príncipe D. João recebeu um ultimatum, apresentado pelos representantes diplomáticos de França e da Espanha. Ou Portugal declarava guerra à Inglaterra até ao primeiro dia de setembro, ou era invadido pelas tropas franco-espanholas.

No mês de outubro a aliança franco-espanhola chegou inclusivamente a negociar a partilha de Portugal em Fontainebleau, na eventualidade de o país sucumbir a esta força.

Os dados estavam lançados. Portugal manteve o apoio à coroa britânica e preparou-se para ser invadido.
Convencido da invencibilidade do exército francês, o governo português decidiu não resistir; assim, de acordo com um plano preestabelecido com os ingleses, a corte partiu para o Brasil no final de novembro, a bordo de um navio da armada britânica, permanecendo por um período de 14 anos no Rio de Janeiro. O impensável acontecia: Portugal, apesar de teoricamente se manter um reino, unido com o Brasil, na prática passava a ser uma colónia deste território.

O poderio militar gaulês aconselhou a que não fosse oferecida oposição de maior aos invasores. No entanto, a família real e a corte acharam por bem embarcar e instalar-se no Brasil de modo a evitar o seu aprisionamento e a manter a independência nacional.

A resistência armada à ocupação ganhou fulgor após a chegada de um contingente militar inglês liderado por Sir Artur Wellesley (doravante conhecido como Lord Wellington), que infligiu duas derrotas aos inimigos nas batalhas de Roliça e Vimeiro. A conjugação de esforços entre portugueses e ingleses permitiu também obrigar Soult e os seus homens a abandonarem o País, em 1809.

Nesse mesmo ano começaram os preparativos para suster a nova invasão que se adivinhava. Neste contexto, foram levantadas à volta de Lisboa três linhas de defesa fortificadas (as linhas de Torres).

Ainda antes de as atingirem, em 1810, os franceses perderam a batalha do Buçaco. O exército napoleónico foi depois obrigado a suster o seu avanço ante as linhas de Torres, acabando por se retirar na Primavera de 1811.

Portugal sofreu grandes danos materiais causados pela luta armada e pelos saques franceses, bem como pela tática de terra queimada que ingleses e portugueses recorreram com o objetivo de evitar maiores proveitos aos invasores.

No plano económico, a agricultura e, em particular, a criação de gado ressentiram-se a ponto de a subsistência alimentar não ter sido assegurada nos anos que seguiram a 1811.

Do mesmo modo, diminui a produção industrial, acarretando a redução de remessas para as colónias.

Por outro lado, a impossibilidade de continuar a fazer-se a redistribuição dos produtos brasileiros através do território português obrigou, em 1808, à abertura dos portos brasileiros à navegação estrangeira.